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Publicado em 16/03/2022, 17:29

Datam de 1920 os primeiros telefones de acesso público do Brasil, mas eles ainda não ocupavam as ruas, mas sim espaços comerciais. 
 

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Uma das primeiras tentativas de disponibilizar aparelhos nas ruas aconteceu em São Paulo, com um modelo de cabine cilíndrica feita de fibra de vidro e acrílico. Em sua crônica  “Amenidades da rua”, Carlos Drummond de Andrade descreve esta experiência como um fiasco:

"As cabinas cilíndricas despertaram a agressividade, o instinto predatório de alguns , e logo se tornaram ruínas. O usuário repelia a dádiva. Eram feias? Nem por isso. Eram úteis, mas os destruidores não repararam na utilidade. Vingavam-se, talvez, nas pobres cabinas, das frustrações e irritações acumuladas durante anos de mau serviço telefônico. Para não falar no gosto puro e simples de arrebentar, que dorme nas cavernas psíquicas do suposto civilizado, e que, se ninguém está perto para servir de alvo, ou com receio de levar a pior na arrebentação, desaba sobre as coisas, que não reagem. "

A Companhia Telefônica Brasileira procurou então soluções para disponibilizar telefones públicos que evitassem o vandalismo. A solução veio com o modelo de “Orelhão” projetado pela arquiteta Chu Ming Silveira, criado em 1971. No ano seguinte, o modelo foi inaugurado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E em março de 1973, Porto Alegre conheceu seu primeiro “orelhão” localizado na Praça da Alfândega. Na mesma crônica, Drummond nos descreve a sensação dos novos telefones públicos:

"A verdade é que a rua ficou sendo outra coisa, com as pessoas descobrindo que não precisam mais fazer fila no boteco ou na farmácia para dar um recado telefônico. Na própria calçada, uma vez comprada a ficha no jornaleiro, comunicam-se. Tão simples. Em outras cidades desse mundinho que é o mundo, já se fazia isso há muito tempo, mas aqui é novidade grande/ gostosa."

Tanto nos aparelhos residenciais como nos públicos havia um limite entre o público e o privado. Para receber uma ligação, você precisaria estar na sua casa e sentar próximo ao aparelho. No telefone público, a divisória acústica da cabine telefônica e depois do “orelhão” criava uma fronteira entre o espaço particular da conversa e o espaço público. Será apenas com o advento do celular que estas fronteiras serão implodidas, pois será possível receber e realizar chamadas de qualquer lugar, até mesmo de uma via pública.

Referências

ACERVO de Chu Ming Silveira. Orelhão: Ícone do design.Disponível em: https://www.orelhao.arq.br/ Acesso em: 08 de fevereiro de 2022

IMAGENS da História da Companhia Riograndense de Telecomunicações. MemorialCRT, Porto Alegre, 10 de  agosto de 2012. Disponível em: https://memorialcrt.blogspot.com/2012/08/imagens-da-historia-da-companhia.html Acessado em 08 de fevereiro de 2022

LEITE, Carlos Roberto Saraiva da Costa. Alô! Surge o telefone na Capital Gaúcha... Musecom, Porto Alegre, 07 de setembro de 2020. Disponível em: https://www.musecom.com.br/noticias/24/artigo-alo-surge-o-telefone-na-capital-gaucha Acesso em: 17 de março de 2022

Revista Sino Azul, dezembro de 1937, p.43. Acervo Biblioteca Nacional. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=009318&pesq=&pagfis=3431 Acesso em: 17 de março de 2022