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Publicado em 23/03/2022, 18:37

Sérgio José Toniolo, nascido no dia 17 de outubro de 1945, é uma figura marcante nas ruas da capital gaúcha, tendo “pichado até o céu” (como o mesmo diz), com uma pipa que empinava de seu prédio e em jogos de futebol. Ex-policial civil, foi um escritor assíduo durante o período militar, mais precisamente na década de 1970, dizem que chegava a mandar dezenas de cartas por semana aos grandes jornais de Porto Alegre e de todo o Brasil. Em 1978, ficou preso por 43 dias, depois de fazer denúncias a um delegado de polícia de Porto Alegre. Logo após, foi aposentado forçadamente sob o diagnóstico de "esquizofrenia paranóide”. Desde então, deixa sua marca pelas ruas e muros de Porto Alegre, com adesivos, sprays e cartazes com seu nome.

“Os muros são do povo, e os muros são os únicos lugares que o povo tem para se expressar.”

-  Toniolo para o Viés da UFRGS.

Sua carreira como pichador começou no ano de 1982, anteriormente era ativista somente nas cartas que mandava aos jornais. No mesmo ano, motivado pelas cartas, o ex-presidente Tancredo Neves, na época senador, convidou Toniolo para concorrer a um cargo político pelo Partido Popular (hoje já extinto). Do PP ele passou para o PMDB, onde iria concorrer para deputado estadual com o número 5143, o que acabou não ocorrendo pois a justiça eleitoral vetou sua candidatura alegando que ele era filiado do PTB, o que era mentira. Toniolo então cria uma “campanha” fictícia, na qual concorre pelo não-registrado PAB (Partido Anarquista Brasileiro), sempre com o número 5143. Em janeiro de 1984, anunciou que iria pichar o Palácio Piratini às 17 horas, no horário marcado havia mais de 200 policiais no local, pelos quais passou despercebido, já que se passou por padre ao sair da Catedral, onde aguardava o horário marcado, dando inclusive um “boa tarde” aos policiais que deveriam barrá-lo; no entanto, só foi detido quando escrevia o último “O” de seu sobrenome. Toniolo ameaçou por diversas vezes pichar outros órgãos públicos além do Palácio do Piratini, como a sede da ONU em Nova Iorque e a Anistia Internacional em Londres. Em 15/11/1984, Toniolo pichou o Palácio do Planalto, no auge da Ditadura Militar, em favor das “Diretas Já”, que acabaram por não ocorrer nesse dia.

“A propósito, fui a única pessoa no Brasil a protestar contra a ditadura de 1964, ao pichar no seu dia (31 de março) o pórtico da cidade de São Jerônimo, exatamente às 17 horas, como anunciara pela imprensa de todo país. Nesta data todos partidos da Oposição silenciaram e, como é sabido, quem cala consente, deprende-se que todos partidos estão contentes com a atual ditadura.”

Carta de Toniolo extraída da “Revista Cobra"
 

Toniolo tornou-se, então, um grande personagem no imaginário dos porto-alegrenses, pois muita gente não o conhece, nunca o viu e nem sabe se “Toniolo” seja de fato uma pessoa. Porém, não há quem nunca tenha visto um adesivo com seu nome pela cidade, com frases como “A Dilma é uma gata”, “Bolsonaro genocida”, “Impeachment neles”, ou seu nome pichado em algum local pela capital.

“Já vai fazer 40 anos, mas a verdade é que o meu protesto não adianta nada. Adiantam aqueles protestos que o povo vai pra rua com cartaz. Eu não conheço ninguém. Mas eu não tô nem aí! Cada um tem que fazer alguma coisa, né? Eu continuo porque se eu parar, vou engordar, hehe.”

Diálogo retirado da conversa em quadrinhos do artista Pablito Aguiar.

Referências:

RODRIGUES, Leonardo. Toniolo, fruto do imaginário porto-alegrense. Médium, 2018. Disponível em: <https://leonardo-s-rodr.medium.com/toniolo-fruto-do-imagin%C3%A1rio-porto-alegrense-9c274fdc0629>. Acesso em: 27 de janeiro de 2022.

REICHELT, Henrique. TONIOLOOLOINOT. Overmundo, 2011. Disponível em: <http://www.overmundo.com.br/overblog/t-o-n-i-o-l-o-o-l-o-i-n-o-t>. Acesso em: 27 de janeiro de 2022.

AGUIAR, Pablito. Conversas em Quadrinhos: Sérgio José Toniolo, pichador portoalegrense. Instagram, 2021. Disponível em: < https://www.instagram.com/p/CX80xpprYhE/?utm_source=ig_web_copy_link > . Acesso em: 27 de janeiro de 2022.